Com o propósito de rever a Geografia, a Política, a Geograficidade, a autora propõe uma reavaliação da trajetória de Paul Vidal de La Blache, o fundador da escola francesa de geografia, à luz de uma releitura do Tableau de la géographie de la France, e da primeira apresentação de La France de L’Est (Lorraine-Alsace) 1917, seu último livro, e cuja efetiva divulgação, não por acaso, é relativamente recente (meados dos anos 1970, na França). A releitura do consagrado Tableau permite assinalar a contribuição de Vidal na organização do espaço sob a perspectiva de um avanço metodológico considerável (a polarização urbana), e a primeira apresentação de La France de L’Est oferece a oportunidade de registrar o significado da política e dos fenômenos políticos no pensamento geográfico que Vidal elaborou no início do século XX.
Palavras-chave: Política, Geograficidade, Método.
ABSTRACT:
With the objective of reviewing Geography, Politics and Geography subject, the author proposes a reevaluation of Paul Vidal de La Blache’s trajectory, the founder of the geography French school, in the light of a rereading of the Tableau de la géographie de la France, and of the first presentation of La France de L’Est (Lorraine-Alsace) 1917, his last book, which effective spreading, not by random, is relatively recent (middle of the 70s, in France). The rereading of the well known Tableau allows us to point out the contribution of Vidal in space organization under the perspective of a considerable methodological improvement (the urban polarization), and the first presentation of La France de L’Est offers us the opportunity of registering the meaning of politics and political phenomena on geographical thought which Vidal elaborated in the beginning of the twentieth century.
Key words: Politics, Geography subject, Method.
A respeito da Política: uma introdução
“O que distingue o convívio dos homens na polis de todas as outras formas de convívio humano que eram bem conhecidas dos gregos, era a liberdade. Mas isso não significa entender-se aqui a coisa política ou a política justamente como um meio para possibilitar aos homens a liberdade, uma vida livre. Ser-livre e viver-numa-polis eram, num certo sentido, a mesma e única coisa.” Hannah Arendt
Em suas origens, política remete à politikos, um adjetivo derivado de polis, a cidade da antiga Grécia, e sobretudo às relações entre homens livres e iguais entre si na ágora, dado que as coisas que diziam respeito à vida (em seu sentido mais amplo) na polis - quer as denominemos «relações sociais», «a esfera pública e a esfera privada», ou «questões urbanas», na linguagem do mundo contemporâneo - geralmente eram debatidas e resolvidas por meio de uma conversa mútua. O livre diálogo entre homens iguais dava sentido à política. A liberdade política, porém, era indissociável da espacialidade: esse homem só era livre no espaço da polis, de maneira que o degredo, ou o afastamento da polis por qualquer outra razão, implicavam simultaneamente em perda da liberdade e da igualdade.
A antiga sinonímia «política e liberdade», contrasta radicalmente com a realidade da sociedade moderna. Se a política desempenhou um papel de fundamental importância em sua instituição, também é verdade que as experiências políticas vividas pelos homens desde a aurora dos tempos modernos tenderam a limitar a liberdade, ou a descaracterizá-la por completo (sob os Estados totalitários). Podemos avaliar a gravidade engendrada por uma crescente instrumentalização da política se consideramos que, a partir de então, a vida humana correu/corre o risco de se extinguir na Terra (e, com ela, talvez todas as manifestações da vida).
Mas, o que a instrumentalização da política e o risco de extinção da humanidade têm a ver com a Geografia?
Geografia e Política
“La raison d’être de la géographie, épistémologiquement parlant et son utilité sociale fondamentale, sont l’observation, l’explication et la prévision des interactions spatiales, entre les très diverses catégories de phénomènes, entre les différents jeux de forces, l’analyse de chacun d’eux relevant d’une science spécialisée dans l’investigation d’une portion précise du réel. La géographie est le savoir penser l’espace dans sa complexité pour y agir efficacement.”
Yves Lacoste
A Geografia irrompeu como ciência no mundo moderno. Politicamente, a Europa Ocidental estava consolidando uma forma de fazer política, apresentada e representada como «a única possível»: o Estado-nação, uma construção da sociedade capitalista (e moderna), que é inseparável de uma dimensão espacial da realidade: o território; melhor dizendo, o território nacional.
Entretanto, convém registrar que o território é uma representação do espaço geográfico, dentre outras possíveis. É uma construção social que resulta das relações de poder em uma sociedade historicamente contextualizada. Para nossos propósitos nesse artigo, limitamo-nos a considerar que o poder é «a mercadoria
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